Citando
um artigo da Psicopedagogia Socorro , postada minha cara amiga Ana Paula
Pacheco:
“O
conhecimento enciclopédico da criança pode ser bastante assinalável e ela pode ser
vista como um pequeno professor, ansiosa por ler tudo acerca do interesse, por
colocar questões sobre o temo aos adultos e por instruir os seus pares acerca
do interesse (mais parecendo um professor do que um colega). Podem ficar com a
impressão de que a criança é um potencial gênio, mas os professores notam que
,muito embora o tempo de atenção e capacidade de atenção pelo detalhe sejam
impressionantes quando a criança está concentrada no seu interesse especial,
essa motivação,essa atenção e essa capacidade estão claramente ausente quando a
criança está envolvida em outra atividade acadêmica, sobretudo aquelas que
interessam aos seus pares. O foco de interesse muda invariavelmente, mas na
altura determinada pela criança, e é substituída por um novo interesse, também
da escolha da criança, não dos pais.”
Vamos procurar
interpretar isto:
A criança aspie,tem,
como todas as pessoas, imenso prazer em falar dos assuntos que gosta e domina.É
algo natural de todas as pessoas, sejam aspies ou neurotípicas, de ter prazer
em discorrer sobre o que gosta.
Devido ‘a sua mente
complexa e sofisticada, muitas vezes anos ‘a frente de outras crianças, a
criança Asperger tem como diferença em relação ‘as outras o gosto pelo
detalhe,a análise minuciosa, algo de que outras crianças não compartilham e nem
mesmo muitos adultos neurotípicos, em seu imediatismo egoísta e neurótico
advindo do stress do dia a dia, não tem paciência.
Isto, os pesquisadores
dizem, dificulta a sociabilidade da criança aspie, mas...é a criança aspie a
culpada?
É um defeito ela ser
mais inteligente do que as outras ?
Oras, ela não está
demonstrando sua inteligência para se mostrar, para se gabar, é algo natural
dela,algo diria mesmo inconsciente.Ao expor o assunto, este flui como um rio
que deságua numa cachoeira, e é ao irresistível quanto a própria
cachoeira,impossível parar as águas que caem!
Ela não faz por que
quer, por egoísmo, autocentrismo, por falta de noção das outras, para dominar a
conversa ou as outras crianças,faz porque sai naturalmente e ela é assim
mesmo.E deve ser assim e não se deve tentar controlar ou conter isto, ou poderá
causar angústia, depressão e rejeição,pois ela irá se sentir como se estivesse
recebendo uma mordaça na frente de todos,por não poder se expressar livremente.
O que é necessário é
sim uma reeducação das crianças que convivem com ela para tolerar esta
diferença dela,inclusive porque é bem educado não interromper as outras pessoas
enquanto estão falando e isto deve ser respeitado.
As pessoas tem a
tendência de achar que aspies não se tocam que outras pessoas querem ou
precisam falar também, que não tem noção
do outro, que não conseguem se colocar no lugar do outro.
Isto não ó não é
verdade como não tem nada a ver, neste caso, uma coisa com a outra.
O Asperger fala com
prazer do que gosta e domina, e se sente seguro falando de conhecimentos que
domina bem.Por isto mesmo se cala quando o assunto da conversa é algo que ele
não domina,não só por insegurança, mas para não cometer gafes e erros, pois ele
sempre acha que precisa passar aos outros uma imagem positiva de si mesmo, e
cobra-se a si mesmo não cometer erros, especialmente na frente dos outros.
E como disse antes,
isto é algo inconsciente,sua mente está super concentrada organizando metódicamente
o assunto, ajustando o raciocínio para a velocidade com que se fala, seguindo
uma hierarquia organizacional de pensamento complexa e sofisticada dentro de
sua própria burocracia,necessária para um raciocínio tão complexo,para poder
dar atenção a como as outras pessoas estão se sentindo no momento,sua mente
está ocupada demais com algo que um neurotípico seria claramente incapaz de
lidar, tal o volume de informações sendo processado em altíssima velocidade,
muito maior do que um neurotípico lida no seu dia a dia , especialmente para
falar.
Este processo
congnitivo superior não pode ser parado de repente, ou todo o trabalho mental é
perdido, necessita ser todo acessado e reorganizado tudo de novo, o que leva
tempo.
É como o disco rígido
de um computador, que tem que acessar as informações aleatóriamente e
colocá-las numa determinada ordem e necessita de alocar não só a memória RAM
neurotípica, mas também recorrer ao disco rígido, pois as informações
ultrapassam o limite da memória RAM.
Mas o Asperger sabe bem
que existem outras pessoas querendo ou precisando falar, mas sabe também que
não há como parar enquanto não expor o assunto completo, ou (ele acha e
geralmente costuma estar certo) as pessoas não conseguirão e poderão
interpretar mal ou errôneamente o que ele quis dizer.
E como está
demasiadamente ocupado processando suas informações, ele se vê obrigado a
deixar suas impressões dos outros de lado temporáriamente.
Claro que isto causa a
ele também mal estar, pois percebe claramente que as pessoas estão aborrecidas,
irritadas ou entediadas com sua
explanação,e isto pode inclusive prejudicar seu raciocínio em sua organização e
diminuir a taxa de transferência
pensamento/fala, alongando considerávelmente o já prolongado tempo de exposição
de suas ideias, pois traz angústias e ansiedades e pressões internas de
repentinas necessidades de síntese da exposição, além do sentimento de culpa,o
que complica ainda mais a organização já complexa de seu pensamento.
Só que, se as pessoas
não sabiam de nada disto, não cabe culpa a nenhum dos lados esta “dificuldade
de sociabilização”.Esta característica aspie não é um defeito causador de
insocialização,mas é algo que demora a ser superado, pois necessita de um longo
auto treinamento consciente para uma adaptação e só vem quando o aspie atinge o
terceiro e último estágio do Processo de Maturidade Asperger.
Enquanto isto não
acontece, são as outras pessoas que tem de se adaptar a ele, e tolerar e
aceitar as diferenças, pois uma característica tão arraigada e inconsciente,
por sua natureza é algo demorado e difícil de modificar.
Isto posto, vamos à
questão da exclusividade de interesses do Aspie em detrimento do interesse
coletivo.
Todos nós, aspies e
neurotípicos, temos nossos assuntos favoritos e muitas vezes exclusivos, que
não interessam à outras pessoas.Ninguém é obrigado a gostar, ou pior ainda, só
gostar, de assuntos que a maioria parece gostar, como, por exemplo ,futebol.
Mesmo assim, a
ocorrência de fanatismos, como o futebolístico ou religioso , é comum nos
neurotípicos, ultrapassando muitas vezes o limite do razoável e do
sadio,tornando-se uma neurose obcessiva -compulsiva grave, o que não costuma
acontecer com aspies.
Agora, considerar que
uma criança seja aspie porque todas as outras da classe adoram futebol e ela
não gosta, e prefere falar de dinossauros, por exemplo,seja insociável e ter
dificuldade de sociabilização por isto, considerar ela doente e as outras
sadias por causa disto, ou ainda pior, dizer que o gosto dela por dinossauros a
faz ser insociável, dificulta sua
sociabilidade, e que ela gostar de um assunto diferente das outras faz com que
ela seja classificada como “portadora de distúrbio de desenvolvimento”, aí,
convenhamos, não apenas é injusto e preconceituoso para com a criança aspie,
como é errôneo, totalmente fora da realidade!
A criança aspies, como
todas as outras, não é obrigada a gostar de futebol só porque todas as outras
gostam, e exigir e forçar que ela passe a gostar de futebol, ou qualquer outro
assunto,por assim dizer, “de interesse público”,só para se sociabilizar não
apenas é injusto como errado.Sociabilizar-se não significa uma pessoa se anular
a si mesma ou ter de deixar de ser quem é para ser o que as outras pessoas
querem que ela seja.E outra, a gente se sociabiliza com quem a gente gosta e
com quem se identifica conosco, então, tentar sociabilizar uma criança aspie
com outras que não tem nada a ver com ela,que tem interesses diversos,ou pior
ainda, com crianças que estão sendo forçadas a aceitá-la à revelia, porque não
a querem no grupo, é estupidez e só pode levar ao fracasso, e leva a criança
aspie ao trauma,à rejeição e aprofunda seu isolamento.Ela deve ,se ela quiser,
se sociabilizar com quem ela escolher, com quem se identificar com ela.
Como aconteceu na minha
infância, que encontrei um amigo neurotípico que se identificou comigo, e esta
amizade perdura por mais de 37 anos, até hoje !
Então é preferível
poucos amigos verdadeiros, com amizades espontâneas, com pessoas que se
identificam entre si, do que tentar forçar uma criança a se sociabilizar com
outras que não tem nada a ver com ela e onde ela não será bemvinda.Assim como
as crianças neurotípicas não devem ser forçadas a aceitar o aspie na marra, o
aspie não pode ser obrigado a ser introduzido no grupo.O importante é ele
deixar procurar sozinho alguém que vai se identificar com ele e não ter pressa,
com o tempo ele acha,ao contrário do que muita gente pensa, isto não é
impossível.E não necessáriamente esta outra pessoa vai ser Asperger.
Aliás, como os aspies
tem interesses específicos e diferentes, este não são iguais entre si, então
não podemos nos iludir e tentar fazer uma roda de aspies achando que só porque
são aspies todos vão gostar de dinossauros.Uns vão gostar de dinossauros, outros
de astronáutica, outros de anime, outros de comportamento animal, outros de
trens, outros de avião e assim por diante.E crianças neurotípicas também,
embora tenham interesses comuns, outros interesses vão ser diferentes entre si.
Sem falar que, como os
neurotípicos, os Aspergers também não tem um interesse só em cada fase.Sempre
tem um dominante, mas tem outros interesses menores.Posso dar a mim mesmo como
exemplo.No momento estou na minha fase de gostar de animes japoneses, mas
também me interesso pelas coisas do coração, Asperger/Autismo,paleontologia,
comportamento animal, lobos e raposas,aviões, carros,Star Trek,Star Wars,ficção
científica em geral e por aí vai.
Então vamos tirar da
cabeça que a criança aspie tenha de se interessar por assuntos coletivos ou de
interesses de seus pais e/ou professores, para ser considerada “normal” ou de
que o fato de ela não gostar/se interessar destes /sobre estes assuntos
dificulta sua sociabilidade e a torna doente, ou que isto seja um “sintoma” a
ser tratado/curado.Nada disto. A criança aspie tem a sua própria
individualidade e sua diferença e estas devem ser respeitadas.
Ela não é obrigada a
gostar ou se interessar por nenhum assunto para se sociabilizar.Primeiro que é
direito dela se sociabilizar ou não, e ela se sociabiliza com quem quer, se
quiser e não com qualquer um, nem deve se sacrificar para tentar se colocar ela
junto com quem não a quer e ela não quer e que nada tem a ver com ela.
Não existem apenas
graus de sociabilidade, mas qualidade de sociabilidade.
Incluir socialmente não
é incluir com qualquer um indiscriminadamente. É incluir com qualidade, com
quem tem a ver com a gente, com quem a gente quer.Quem sabe quem é melhor para
a gente somos nós não os outros, não importa se os os outros são pais, professores
ou terapeutas.Quem decide com quem vamos nos relacionar deve ser nós, aspies e
mais ninguém, ninguém, absolutamente ninguém, nem mesmo nossos pais, tem o
direito de decidir por nós com quem sociabilizar, nem impor sociabilizar com
quem sabemos que não nos quer ou que nada tem a ver com a gente.É preciso
confiar e respeitar nossa própria autonomia.Não somos idiotas para precisarmos
de outras pessoas decidirem nossas vidas e nossos relacionamentos por nós,isto
é subestimar nossa inteligência.
Cristiano Camargo