Para que possam se situar, para aqueles que não souberem do se trata a Teoria da Mente, vou citar aqui um conceito:
Segundo Premack & Woodruff, 1978 : “ Teoria da mente significa a capacidade para atribuir estados mentais a outras pessoas e predizer o comportamento das mesmas em função destas atribuições”.(fonte: site Universo Autista).
Muito bem! Algunss autores, como Juliana Pereira e Priscila Tenenbaum ,por exemplo,(fonte :site Comportamento Infantil com Dr. Gustavo Teixeira) atribuem aos Aspergers uma “dificuldade de colocar-se na perspectiva dos outros”.
Estão corretos? Não! E porque não? Porque não se trata de uma dificuldade, apenas de uma condição momentânea.Esta na verdade não é exatamente a palavra que eu procurava, mas vou explicar: na Primeira Fase do Processo de Amadurecimento Asperger(P.A.A.),a criança está entretida em seu Mundo Interno de Fantasia(M..I.F. ); isto a leva a ser mais egocêntrica e egocentrista, portanto a pensar menos socialmente e nas outras pessoas.Na verdade ela projeta a si própria nas outras pessoas para construir seus personagens, e como ela tem uma intensa relação de confiança com seu M.I.F., ela tende a acreditar que as pessoas sejam do jeito que ela imagina, ignorando como elas realmente sejam, nesta fase.
Então o Aspie age diferentemente quando na primeira ou última fase de seu P.A.A., e também conforme o contexto da ocasião:um aspie ainda imaturo não vai querer se colocar no lugar de outra pessoa, especialmente quando estiver mergulhado em seu M.I.F., ou elaborando um raciocínio complexo,mas mesmo com a mente desocupada (o que é raro) ele tenderá a acreditar no que imagina, não no que vê.Isto porque muitos aspies , em especial os imaturos,tendem a considerar a Realidade como algo menor, algo mundano, comum, de pouca importância.O prioritário é seu M.I.F.
Mas um Aspie maduro tem a capacidade plena exercer a Teoria da Mente, mas só a exerce quando considera esta necessária para dominar uma situação ou quando acha que ela lhe dará algum tipo de vantagem ou benefício sobre outras pessoas.Mas isto também envolve sentimentos, então, quando ele pensa em pessoas que gosta e que estejam em situação ruim, ele se preocupa com ela e se coloca na situação dela, buscando soluções.
Em algumas ocasiões, quando o Aspie maduro está explicando um raciocínio complexo e tem muito o que falar, sua mente está ocupada demais no momento para também exercer a Teoria da Mente, mas se lhe for dado o devido tempo, ele a exercerá.Como diálogos neurotípicos são muito rápidos,sem dar muito tempo para raciocínios complexos, na base do improviso tosco,muitas vezes este tempo não é dado devidamente, passando a impressão falsa de falta de capacidade de exercer a Teoria da Mente.
Assim como não é verdade que aspies não sejam capazes de dialogar no mesmo ritmo dos neurotípicos -eles são, mas não gostam de fazer isto nesta velocidade, pois seu raciocínio além de complexo , é estruturado em uma ordem burocrática organizada, com a eleição de prioridades e uma ordem precisa de sequencia de análise, e eles se vêem obrigados a sintetizar e abrir mão de boa parte do processo burocrático de criação de raciocínio para obter a velocidade desejada.
Mas o asperger não tem apenas um bom raciocínio analítco.Os aspergers maduros desenvolvem com o tempo e auto treinamento um raciocínio dedutivo altamente sofisticado. E isto é um componente intrínseco da Teoria da Mente.Para você se colocar no lugar da pessoa e prever como ela irá se comportar numa situação hipotética, que é não mais que o âmago da T.M. ,você deve ser capaz de deduzir comportamentos.
É como aquela bobagem que muitos dizem de o asperger não ser capaz de reconhecer estados emocionais das outras pessoas pelo reconhecimento fisionômico do rosto e mãos.Um asperger maduro e auto treinado consegue sim, fazer este reconhecimento, que é outro componente da T.M.
Novamente coloco a mim como exemplo.Muitas vezes nem preciso ver a expressão do rosto para saber o estado emocional da pessoa, sua intenções, se está falando a verdade ou mentindo, ou omitindo informações, ou ainda, escondendo sentimentos.Mas como comumente eu consigo conversar olhando no rosto da pessoa se eu quiser,nestas ocasiões eu percebo muito bem o estado emocional da pessoa.Claro, é preciso auto treinamento para conversar olhando nos olhos, então, após o olhar inicial, eu rápidamente avalio se vale a pena ou não usar este recurso- depende da pessoa que for, da situação que eu estiver,do que eu achar que esta pessoa pode ter a me oferecer de bom e de ruim,e aí julgo se a vou conversar com ela olhando nos olhos ou não, porque muitas vezes nem vale a pena.Mas também, dependendo do rumo da conversa, posso mudar de idéia e passar a conversar olhando nos olhos.
Mas para mim, e acredito boa parte dos aspies, só o tom de voz e o gesticular já indicam sozinhos muito bem o estado emocional da pessoa, o reconhecimento fisionômico é apenas um recurso a mais.
Isto pode não ser agir igualzinho a um neurotípico, condicionado desde criança a conversar olhando nos olhos,mas e daí?O que isto tem de ruim, de defeito?Nada, é apenas uma maneira diferente de ser, não uma maneira doente de ser.
Muitas coisas podem ser feitas com iguais resultados de maneiras diferentes. Cabe aos Neurotípicos pelo menos tolerar o diferente como sendo saudável,ou seja, aceitar a realidade e não distorcê-la.
Enfim, os Aspergers tem e exercem a Teoria da Mente, quando querem, se quiserem e de uma maneira diferente dos Neurotípicos, mas igualmente clínicamente, psicológicamente saudável.
Cristiano Camargo
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