Proposta do Blog


"Tudo é impossível até que seja tentado!"
Esta frase é a que tem orientado a minha vida há
muitos anos e que acredito resumir muito
bem o espírito Asperger. A partir de agora, o (a) leitor(a) vai fazer comigo
uma intensa viagem ao mundo da Mente Asperger e seu funcionamento interno e
visão de mundo, minha vida ,minhas teorias sobre esta Síndrome(que em muita
coisa acredito aplicar-se também ao Autismo Clássico) e meu convívio com outros
Aspies.Como se sabe nos meios
científicos, a Síndrome de Asperger faz parte do Autismo, mas é considerada por
eles uma variação mais leve,parecida com o que chamam de Autismo de Alto
Desempenho.O porquê do título deste blog o (a) leitor(a) saberá ao longo dos tópicos e postagens que aqui serão inseridos com o tempo.
Desde já aviso, no entanto, que , embora não se
possa afirmar com exatidão e responsabilidade de que estas minhas idéias e teorias se apliquem a todos os Aspergers e
demais autistas,são aplicáveis sim a um grande número de casos.
Explico: A Síndrome de Asperger tem características
e manifestações com grande variedade de graus e diferenças muito pessoais entre
si, cada caso é um caso específico, e poucas são realmente universais.Uma
expressão que usarei muito aqui e que pode gerar dúvidas é “Neurotípico”,o
significado dela é o de pessoas que não são portadoras de Síndrome de Asperger,
nem são Autistas.Aqui também irei postar , além
de textos com minhas teorias e idéias sobre a Síndrome, também
apresentarei e comentarei notícias , vídeos e reportagens de televisão
sobre Asperger que coletarei da net,com críticas quando
necessárias.Igualmente o projeto abrange orientações a mães de Asperger
e sugestões a Terapeutas.Penso também na possibilidade de, de vez em
quando entrevistar um(a) terapeuta e/ou profissional de inclusão e
também outros aspies.
Isto dito, desejo aos leitores e às leitoras uma boa
leitura!

Cristiano Camargo
48 anos
Divorciado
Portador de Síndrome de Asperger, que superou as "limitações" de sua síndrome, tanto sociais como neurológicas, sozinho, sem remédios nem tratamentos,por opção consciente.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Relação entre Inteligência e Qualidade Inclusão em crianças Asperger




Citando um artigo da Psicopedagogia Socorro , postada minha cara amiga Ana Paula Pacheco:
“O conhecimento enciclopédico da criança pode ser bastante assinalável e ela pode ser vista como um pequeno professor, ansiosa por ler tudo acerca do interesse, por colocar questões sobre o temo aos adultos e por instruir os seus pares acerca do interesse (mais parecendo um professor do que um colega). Podem ficar com a impressão de que a criança é um potencial gênio, mas os professores notam que ,muito embora o tempo de atenção e capacidade de atenção pelo detalhe sejam impressionantes quando a criança está concentrada no seu interesse especial, essa motivação,essa atenção e essa capacidade estão claramente ausente quando a criança está envolvida em outra atividade acadêmica, sobretudo aquelas que interessam aos seus pares. O foco de interesse muda invariavelmente, mas na altura determinada pela criança, e é substituída por um novo interesse, também da escolha da criança, não dos pais.”
Vamos procurar interpretar isto:
A criança aspie,tem, como todas as pessoas, imenso prazer em falar dos assuntos que gosta e domina.É algo natural de todas as pessoas, sejam aspies ou neurotípicas, de ter prazer em discorrer sobre o que gosta.
Devido ‘a sua mente complexa e sofisticada, muitas vezes anos ‘a frente de outras crianças, a criança Asperger tem como diferença em relação ‘as outras o gosto pelo detalhe,a análise minuciosa, algo de que outras crianças não compartilham e nem mesmo muitos adultos neurotípicos, em seu imediatismo egoísta e neurótico advindo do stress do dia a dia, não tem paciência.
Isto, os pesquisadores dizem, dificulta a sociabilidade da criança aspie, mas...é a criança aspie a culpada?
É um defeito ela ser mais inteligente do que as outras ?
Oras, ela não está demonstrando sua inteligência para se mostrar, para se gabar, é algo natural dela,algo diria mesmo inconsciente.Ao expor o assunto, este flui como um rio que deságua numa cachoeira, e é ao irresistível quanto a própria cachoeira,impossível parar as águas que caem!
Ela não faz por que quer, por egoísmo, autocentrismo, por falta de noção das outras, para dominar a conversa ou as outras crianças,faz porque sai naturalmente e ela é assim mesmo.E deve ser assim e não se deve tentar controlar ou conter isto, ou poderá causar angústia, depressão e rejeição,pois ela irá se sentir como se estivesse recebendo uma mordaça na frente de todos,por não poder se expressar livremente.
O que é necessário é sim uma reeducação das crianças que convivem com ela para tolerar esta diferença dela,inclusive porque é bem educado não interromper as outras pessoas enquanto estão falando e isto deve ser respeitado.
As pessoas tem a tendência de achar que aspies não se tocam que outras pessoas querem ou precisam  falar também, que não tem noção do outro, que não conseguem se colocar no lugar do outro.
Isto não ó não é verdade como não tem nada a ver, neste caso, uma coisa com a outra.
O Asperger fala com prazer do que gosta e domina, e se sente seguro falando de conhecimentos que domina bem.Por isto mesmo se cala quando o assunto da conversa é algo que ele não domina,não só por insegurança, mas para não cometer gafes e erros, pois ele sempre acha que precisa passar aos outros uma imagem positiva de si mesmo, e cobra-se a si mesmo não cometer erros, especialmente na frente dos outros.
E como disse antes, isto é algo inconsciente,sua mente está super concentrada organizando metódicamente o assunto, ajustando o raciocínio para a velocidade com que se fala, seguindo uma hierarquia organizacional de pensamento complexa e sofisticada dentro de sua própria burocracia,necessária para um raciocínio tão complexo,para poder dar atenção a como as outras pessoas estão se sentindo no momento,sua mente está ocupada demais com algo que um neurotípico seria claramente incapaz de lidar, tal o volume de informações sendo processado em altíssima velocidade, muito maior do que um neurotípico lida no seu dia a dia , especialmente para falar.
Este processo congnitivo superior não pode ser parado de repente, ou todo o trabalho mental é perdido, necessita ser todo acessado e reorganizado tudo de novo, o que leva tempo.
É como o disco rígido de um computador, que tem que acessar as informações aleatóriamente e colocá-las numa determinada ordem e necessita de alocar não só a memória RAM neurotípica, mas também recorrer ao disco rígido, pois as informações ultrapassam o limite da memória RAM.
Mas o Asperger sabe bem que existem outras pessoas querendo ou precisando falar, mas sabe também que não há como parar enquanto não expor o assunto completo, ou (ele acha e geralmente costuma estar certo) as pessoas não conseguirão e poderão interpretar mal ou errôneamente o que ele quis dizer.
E como está demasiadamente ocupado processando suas informações, ele se vê obrigado a deixar suas impressões dos outros de lado temporáriamente.
Claro que isto causa a ele também mal estar, pois percebe claramente que as pessoas estão aborrecidas, irritadas ou entediadas com  sua explanação,e isto pode inclusive prejudicar seu raciocínio em sua organização e diminuir a  taxa de transferência pensamento/fala, alongando considerávelmente o já prolongado tempo de exposição de suas ideias, pois traz angústias e ansiedades e pressões internas de repentinas necessidades de síntese da exposição, além do sentimento de culpa,o que complica ainda mais a organização já complexa de seu pensamento.
Só que, se as pessoas não sabiam de nada disto, não cabe culpa a nenhum dos lados esta “dificuldade de sociabilização”.Esta característica aspie não é um defeito causador de insocialização,mas é algo que demora a ser superado, pois necessita de um longo auto treinamento consciente para uma adaptação e só vem quando o aspie atinge o terceiro e último estágio do Processo de Maturidade Asperger.
Enquanto isto não acontece, são as outras pessoas que tem de se adaptar a ele, e tolerar e aceitar as diferenças, pois uma característica tão arraigada e inconsciente, por sua natureza é algo demorado e difícil de modificar.
Isto posto, vamos à questão da exclusividade de interesses do Aspie em detrimento do interesse coletivo.
Todos nós, aspies e neurotípicos, temos nossos assuntos favoritos e muitas vezes exclusivos, que não interessam à outras pessoas.Ninguém é obrigado a gostar, ou pior ainda, só gostar, de assuntos que a maioria parece gostar, como, por exemplo ,futebol.
Mesmo assim, a ocorrência de fanatismos, como o futebolístico ou religioso , é comum nos neurotípicos, ultrapassando muitas vezes o limite do razoável e do sadio,tornando-se uma neurose obcessiva -compulsiva grave, o que não costuma acontecer com aspies.
Agora, considerar que uma criança seja aspie porque todas as outras da classe adoram futebol e ela não gosta, e prefere falar de dinossauros, por exemplo,seja insociável e ter dificuldade de sociabilização por isto, considerar ela doente e as outras sadias por causa disto, ou ainda pior, dizer que o gosto dela por dinossauros a faz  ser insociável, dificulta sua sociabilidade, e que ela gostar de um assunto diferente das outras faz com que ela seja classificada como “portadora de distúrbio de desenvolvimento”, aí, convenhamos, não apenas é injusto e preconceituoso para com a criança aspie, como é errôneo, totalmente fora da realidade!
A criança aspies, como todas as outras, não é obrigada a gostar de futebol só porque todas as outras gostam, e exigir e forçar que ela passe a gostar de futebol, ou qualquer outro assunto,por assim dizer, “de interesse público”,só para se sociabilizar não apenas é injusto como errado.Sociabilizar-se não significa uma pessoa se anular a si mesma ou ter de deixar de ser quem é para ser o que as outras pessoas querem que ela seja.E outra, a gente se sociabiliza com quem a gente gosta e com quem se identifica conosco, então, tentar sociabilizar uma criança aspie com outras que não tem nada a ver com ela,que tem interesses diversos,ou pior ainda, com crianças que estão sendo forçadas a aceitá-la à revelia, porque não a querem no grupo, é estupidez e só pode levar ao fracasso, e leva a criança aspie ao trauma,à rejeição e aprofunda seu isolamento.Ela deve ,se ela quiser, se sociabilizar com quem ela escolher, com quem se identificar com ela.
Como aconteceu na minha infância, que encontrei um amigo neurotípico que se identificou comigo, e esta amizade perdura por mais de 37 anos, até hoje !
Então é preferível poucos amigos verdadeiros, com amizades espontâneas, com pessoas que se identificam entre si, do que tentar forçar uma criança a se sociabilizar com outras que não tem nada a ver com ela e onde ela não será bemvinda.Assim como as crianças neurotípicas não devem ser forçadas a aceitar o aspie na marra, o aspie não pode ser obrigado a ser introduzido no grupo.O importante é ele deixar procurar sozinho alguém que vai se identificar com ele e não ter pressa, com o tempo ele acha,ao contrário do que muita gente pensa, isto não é impossível.E não necessáriamente esta outra pessoa vai ser Asperger.
Aliás, como os aspies tem interesses específicos e diferentes, este não são iguais entre si, então não podemos nos iludir e tentar fazer uma roda de aspies achando que só porque são aspies todos vão gostar de dinossauros.Uns vão gostar de dinossauros, outros de astronáutica, outros de anime, outros de comportamento animal, outros de trens, outros de avião e assim por diante.E crianças neurotípicas também, embora tenham interesses comuns, outros interesses vão ser diferentes entre si.
Sem falar que, como os neurotípicos, os Aspergers também não tem um interesse só em cada fase.Sempre tem um dominante, mas tem outros interesses menores.Posso dar a mim mesmo como exemplo.No momento estou na minha fase de gostar de animes japoneses, mas também me interesso pelas coisas do coração, Asperger/Autismo,paleontologia, comportamento animal, lobos e raposas,aviões, carros,Star Trek,Star Wars,ficção científica em geral e por aí vai.
Então vamos tirar da cabeça que a criança aspie tenha de se interessar por assuntos coletivos ou de interesses de seus pais e/ou professores, para ser considerada “normal” ou de que o fato de ela não gostar/se interessar destes /sobre estes assuntos dificulta sua sociabilidade e a torna doente, ou que isto seja um “sintoma” a ser tratado/curado.Nada disto. A criança aspie tem a sua própria individualidade e sua diferença e estas devem ser respeitadas.
Ela não é obrigada a gostar ou se interessar por nenhum assunto para se sociabilizar.Primeiro que é direito dela se sociabilizar ou não, e ela se sociabiliza com quem quer, se quiser e não com qualquer um, nem deve se sacrificar para tentar se colocar ela junto com quem não a quer e ela não quer e que nada tem a ver com ela.
Não existem apenas graus de sociabilidade, mas qualidade de sociabilidade.
Incluir socialmente não é incluir com qualquer um indiscriminadamente. É incluir com qualidade, com quem tem a ver com a gente, com quem a gente quer.Quem sabe quem é melhor para a gente somos nós não os outros, não importa se os os outros são pais, professores ou terapeutas.Quem decide com quem vamos nos relacionar deve ser nós, aspies e mais ninguém, ninguém, absolutamente ninguém, nem mesmo nossos pais, tem o direito de decidir por nós com quem sociabilizar, nem impor sociabilizar com quem sabemos que não nos quer ou que nada tem a ver com a gente.É preciso confiar e respeitar nossa própria autonomia.Não somos idiotas para precisarmos de outras pessoas decidirem nossas vidas e nossos relacionamentos por nós,isto é subestimar nossa inteligência.

Cristiano Camargo


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