Proposta do Blog


"Tudo é impossível até que seja tentado!"
Esta frase é a que tem orientado a minha vida há
muitos anos e que acredito resumir muito
bem o espírito Asperger. A partir de agora, o (a) leitor(a) vai fazer comigo
uma intensa viagem ao mundo da Mente Asperger e seu funcionamento interno e
visão de mundo, minha vida ,minhas teorias sobre esta Síndrome(que em muita
coisa acredito aplicar-se também ao Autismo Clássico) e meu convívio com outros
Aspies.Como se sabe nos meios
científicos, a Síndrome de Asperger faz parte do Autismo, mas é considerada por
eles uma variação mais leve,parecida com o que chamam de Autismo de Alto
Desempenho.O porquê do título deste blog o (a) leitor(a) saberá ao longo dos tópicos e postagens que aqui serão inseridos com o tempo.
Desde já aviso, no entanto, que , embora não se
possa afirmar com exatidão e responsabilidade de que estas minhas idéias e teorias se apliquem a todos os Aspergers e
demais autistas,são aplicáveis sim a um grande número de casos.
Explico: A Síndrome de Asperger tem características
e manifestações com grande variedade de graus e diferenças muito pessoais entre
si, cada caso é um caso específico, e poucas são realmente universais.Uma
expressão que usarei muito aqui e que pode gerar dúvidas é “Neurotípico”,o
significado dela é o de pessoas que não são portadoras de Síndrome de Asperger,
nem são Autistas.Aqui também irei postar , além
de textos com minhas teorias e idéias sobre a Síndrome, também
apresentarei e comentarei notícias , vídeos e reportagens de televisão
sobre Asperger que coletarei da net,com críticas quando
necessárias.Igualmente o projeto abrange orientações a mães de Asperger
e sugestões a Terapeutas.Penso também na possibilidade de, de vez em
quando entrevistar um(a) terapeuta e/ou profissional de inclusão e
também outros aspies.
Isto dito, desejo aos leitores e às leitoras uma boa
leitura!

Cristiano Camargo
48 anos
Divorciado
Portador de Síndrome de Asperger, que superou as "limitações" de sua síndrome, tanto sociais como neurológicas, sozinho, sem remédios nem tratamentos,por opção consciente.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Meu primeiro contato ao vivo com outro Aspie

Durante a época de Natal, minha irmã me apresentou a uma colega dela que tem um filho Asperger.
Nos encontramos numa lanchonete localizada numa galeria da Avenida Paulista, em São Paulo,eu, minha irmã, a colega dela e o filho dela.
Tanto mãe como filho não quiseram ter os nomes revelados públicamente, então respeitarei a vontade deles.Vou me referir 'a mãe como "M." e ao aspie em questão como "R."

As impressões de R. me pareceram bastante positivas, e pela primeira vez pude observar um indivíduo imaturo, cuja idade é de 15 anos.
Notei o estágio primário dentro do Processo de Maturidade Asperger nele, pela descrição da mãe, da descrição do próprio R. de si mesmo,e também por seu olhar fugidio, levando a cabeça para um lado e outro, e os olhos idem.
No entanto o que me surpreendeu muito positivamente nele foi seu esfôrço em focar a atenção dele em mim quando eu estava falando, e percebendo que ele anotava mentalmente, com muita diligência tudo o que eu falava.
Ele falou muito pouco e não parecia 'a vontade, mas é preciso considerar que, fora a mãe dele, todos os restantes eram desconhecidos para ele, o que é um fator intimidador por sua própria natureza.
Mas respondeu 'as minhas perguntas, e encontramos várias convergências no nosso passado, como episódios de bullying e a dificuldade de aceitar perdas em jogos e na vida , durante a infância.
Ele parecia muito interessado, apesar de não demonstrar muito claramente, porém um exame minucioso no olhar dele revelou que o interesse era real e intenso, apesar de não se manifestar verbalmente com frequencia.
Claro, a mãe dele estava interessadíssima e fazia muitas perguntas, frequentemente interrompendo minhas respostas, interessada principalmente em como eu era quando eu tinha a idade do filho dela e o que fiz para superar.No entanto, ela me pareceu algo alienada, não muito propensa a aceitar os meus conselhos, pareceu a mim qie ela estava realmente interessada em ouvir e entender apenas o que interessasse a ela,não nas soluções que eu propunha,ou seja, ela só queria, no fundo, no fundo, ouvir elogios ao filho dela.
R. , apesar de muito tímido durante a conversa, mostrou-se, no lidar com questões cotidianas de ordem prática, bastante focado e preciso, e parece já estar sabendo lidar com vários aspectos da realidade.
Ele me revelou algumas informações importantes sobre a pessoa dele, como, por exemplo, serem elementos do Mundo Interno de Fantasia dele os interesses por petróleo e automóveis.
Seu gênio me pareceu calmo e tranquilo.
Segundo a mãe, ele é muito estudioso nas matérias pelas quais se interessa, e desinteressado nas que não gosta.
Uma questão a ser trabalhada nele é a questão de ele detestar escrever ou desenhar, o que me fez ficar pensando em como ele consegue externar suas necessidades de comunicação não verbal.
Enfim, o tempo foi curto e não pude fazer todas as perguntas, sobretudo ao próprio R., que gostaria, mas foi uma observação útil e interessante do comportamento aspie imaturo na adolescência.
Numa análise inicial e ainda muito superficial, eu diria que ele está iniciando agora a Segunda Fase do Processo de Amadurecimento Asperger, mas isto de fato requer bem mais observação e questionamento.
Foi acertado que terei esta chance na próxima vez que eu for a São Paulo-terei entãoa oportunidade de sair sozinho com ele e fazer uma entrevista mais detalhada e uma observação de comportamento idem, além de analisar material espontãneo de comportamento, o que será muito interessante, creio que ele terá muito a me dizer e ensinar.

Cristiano Camargo

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Redefinição de Asperger:Conceitos modernos

Agora que já critiquei os conceitos e caracterizações /diagnósticos clássicos de Asperger, vou aqui atribuir novas definições e critérios de diagnóstico(no sentido de descoberta de caso) para Asperger.

Para tanto, vou inicialmente separar as características em dois grupos principais , a saber:

-Características permanentes

-Características transitórias

Definindo características permanentes e transitórias:

Características Permanentes: são , como o próprio nome diz, características que permanecem com o indivíduo por toda a vida, posto que fazem parte integrante de se ser um Asperger;

Características Transitórias: são aquelas características de manifestações de comportamento, e que são naturalmente eliminadas no decorrer do Processo de Amadurecimento Asperger ou que podem ser artificialmente interrompidas e eliminadas com técnicas de aceleração do Processo de Amadurecimento Asperger.

Isto posto, vamos para as definições em si, que serão os critérios que Aspies Maduros podem utilizar para avaliar os casos imaturos e se o indivíduo é ou não Asperger, de modo a auxiliar os profissionais da área de Psiquiatria/Psicologia e também a Pais de indivíduos supostamente Aspergers:

Características Permanentes:

1)   A existência de um Mundo Interior de Fantasia(M.I.F.):

Todo Asperger possui um M.I.F. , se não tiver, não é Asperger, pois este é o núcleo, o cerne, o âmago, o chassis primordial  emcima do qual se assenta a Asperger.Avaliável através de observação comportamental, e manifestações de comunicações verbais e não verbais , como desenhos e estórias escritas; e gama de interesses.

2)A existência de um Processo de Amadurecimento Asperger (P.A.A):

Assim que Asperger começa a se manifestar no indivíduo, inicia-se concomitantemente o P.A.A.

Ele é um processo de amadurecimento de natureza diferente do que ocorre me indivíduos neurotípicos.É composto de três fases básicas:Estruturação, Dois infernos, e Consolidação.

Mais informações , extremamente detalhadas , sobre o P.A.A. pode ser encontrado neste mesmo blog.

O acompanhamento da evolução deste Processo é altamente recomendado, assim como orientação  e observação detalhada para assegurar o sucesso da transição do indivíduo pelas fases e para superá-las com sucesso.Avaliação através de observações comportamentais e manifestações de comunicação verbale não verbal como desenhos e estórias.



3)Estrutura Cerebral diferenciada, com uma superior plasticidade e adaptabilidade.

O cérebro Asperger possui uma estrutura, especialmente nas conexões neuronais em que os circuitos dedicados á interação social e sociabilidade estão ainda incompletos no nascimento e assim permanecem até as primeiras manifestações visíveis de Asperger.

Com o início do P.A.A., aos poucos estes circuitos e conexões vão se completando, no entanto, são totalmente diferentes dos presentes nos neurotípicos, usando diferentes regiões cerebrais.Estes caminhos novos e diferenciados de informação, entretanto, costumam serem mais eficientes do que os presentes nos neurotípicos, por terem de lidar com situações sociais muitas vezes mais difíceis. Aspergers tem uma superior capacidade de superação.Avaliação por exames clínicos neurológicos avançados.

4)    Existência de fases e linha evolutiva do M.I.F.  externadas através de gostos e preferências pessoais de interesses por assuntos específicos.Estas fases, que podem ser muitas, vão mostrando o amadurecimento do M.I.F. durante a vida do indíviduo e são também indicativas da fase do M.I.F. em que ele está. Cada fase do P.A..A. pode conter várias fases do M.I.F. em si, e seus números são muito variáveis de indivíduo para indivíduo, assim como as idades em que aparecem.

5)    Raciocínio complexo e sofisticado: Dotado de um sistema organizado e burocrático de pensamento em que as prioridades são organizadas e definidas em ordem lógica, Apergers possuem excelentes habilidades tanto de raciocínio analítico como dedutivo, sendo que o segundo se desenvolve em sua plenitude na terceira fase do P.A.A.



Características Transitórias:



1)    Conscientização da existência de seu M.I.F. e da Realidade, sendo que a avaliação da Realidade  nos indivíduos imaturos é sempre negativa, ou seja, vista como hostil e agressiva a ele.

2)    Nos indivíduos imaturos, resistência e desinteresse pelas interações sociais e pela sociabilidade, necessitando que a sociabilidade potencial dele seja libertada e despertada pelas técnicas de P.A.A., para acelerar o mesmo, procedimento altamente recomendável.

3)    Nos indivíduos imaturos, episódios de isolamento social e refúgio no M.I.F. como fator de auto proteção contra traumas e da realidade, que ele vê como um fator de hostilidade e agressão.Quanto mais hostil a Realidade  for, ou for sentida por ele, mais camadas de proteção e isolamento ele vai criando e mais difícil fica ele passar para a segunda ou terceira fases do P.A.A. Esta característica é muito recorrente nas duas primeiras fases, e geralmente eliminada na terceira.A solução é o incentivo ao enfrentamento de si mesmo e mostrar o lado bom da Realidade.

4)    Nos indivíduos imaturos, conflitos internos do M.I.F., gerando uma visão hostil ao indivíduo de seu próprio M.I.F. , externada por sinais clássicos como depressão, agressividade, irritabilidade, e raros episódios de auto-agressão.Para solucionar estes sinais, que são típicos da segunda fase do P.A.A. , recomenda-se técnicas de  intervenção interna do M.I.F. do indivíduo, como jogos de perguntas e respostas em forma de desenhos, em que o indivíduo manisfesta seus sinais simbólicamente nos desenhos e o orientador responde com novos desenhos e procura conhecer o que há no M.I.F. do indivíduo, descobrir os elementos deste que estão em conflito e participar como um personagem deste M.I.F. para orientar o indivíduo para a solução dos conflitos internos e de um caminho seguro pelo P.A.A.

5)    Nos indivíduos imaturos: exposição de discurso prolongada,independendo do interesse da platéia,causada pela extrema sofisticação e complexidade do raciocínio asperger,subestimando muitas vezes a capacidade de compreensão da platéia.Também característica das duas primeiras fases do P.A.A. , a noção de Teoria da Mente e  da conscientização de que nem tudo que é interessante para ele é para os outros, e da aceitação  do aborrecimento ou desinteresse da platéia, e da necessidade de síntese para uma melhor interação social costuma vir naturalmente na terceira fase do P.A.A. Esta pode ser acelerada através de diálogos de conscientização.Uma exposição verborrágica do orientador, para que o indivíduo sinta em si mesmo os efeitos de sua loquacidade pode  ser um caminho para acelerar  este aspecto e o levar para a terceira fase.

6)    Existência de fases e linha evolutiva do M.I.F.  externadas através de gostos e preferências pessoais de interesses por assuntos específicos.Estas fases, que podem ser muitas, vão mostrando o amadurecimento do M.I.F. durante a vida do indíviduo e são também indicativas da fase do M.I.F. em que ele está. Cada fase do P.A..A. pode conter várias fases do M.I.F. em si, e seus números são muito variáveis de indivíduo para indivíduo, assim como as idades em que aparecem.












segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Rebatendo e criticando um artigo científico

Aqui vou analisar e criticar parte de um artigo científico que pesquisei na internet, cntitulado:Transtornos Invasivos do Desenvolvimento.
Fonte:http://www.psiquiatriageral.com.br/dsm4/disrup.htm



F84.5 - 299.80 Transtorno de Asperger
     DSM.IV

Características Diagnósticas
          As características essenciais do Transtorno de Asperger são um prejuízo severo e persistente na interação social (Critério A) e o desenvolvimento de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades (Critério B) (Consultar p. 66, em Transtorno Autista, para uma discussão acerca dos Critérios A e B).

Erro: “prejuízo severo e persistente na interação social”: Não há “prejuízo severo” na interação social,há apenas um isolamento no Mundo Interno de Fantasia, por conta de uma conscientização  de intensa hostilidade advinda da Realidade, que exige um mecanismo de auto proteção psíquico.Através da orientação pelo Processo de Amadurecimento Asperger esta hostilidade e agressividade que o Asperger percebe da realidade e o leva a isolar-se dela pode ser compreendida por ele e levá-lo a descobrir o lado bom da realidade, e transitar em ambos os planos de acordo com sua vontade, tornando-se um indivíduo sociável e produtivo.Portanto não há severidade nem persistência no tal “prejuízo”, que na verdade é uma característica explicável e totalmente superável.

A perturbação deve causar prejuízo clinicamente significativo nas áreas social, ocupacional ou outras áreas importantes de funcionamento (Critério C).

Erro: “A perturbação deve causar prejuízo clinicamente significativo nas áreas social, ocupacional ou outras áreas importantes de funcionamento (Critério C).”

  Não existe perturbação alguma, apenas o Processo de Amadurecimento Asperger em ação, em curso.Como disse antes, tudo isto pode ser fácilmente superado com a técnica baseada no funcionamento da Teoria das três fases do Processo de Amadurecimento Asperger.

Contrastando com o Transtorno Autista, não existem atrasos clinicamente significativos na linguagem (isto é, palavras isoladas são usadas aos 2 anos, frases comunicativas são usadas aos 3 anos) (Critério D). Além disso, não existem atrasos clinicamente significativos no desenvolvimento cognitivo ou no desenvolvimento de habilidades de auto-ajuda apropriadas à idade, comportamento adaptativo (outro que não na interação social) e curiosidade acerca do ambiente na infância (Critério E). O diagnóstico não é dado se são satisfeitos critérios para qualquer outro Transtorno Invasivo do Desenvolvimento específico ou para Esquizofrenia (Critério F).

Características e Transtornos Associados
          O Transtorno de Asperger é observado, ocasionalmente, em associação com condições médicas gerais que devem ser codificadas no Eixo III. Vários sintomas ou sinais neurológicos inespecíficos podem ser observados. Os marcos motores podem apresentar atraso e uma falta de destreza motora em geral está presente.



Erro: .”Os marcos motores podem apresentar atraso e uma falta de destreza motora em geral está presente.”: A coordenação motora não tem falhas permanentes e estas podem ser solucionadas com Terapias apropriadas. Além disto, o incentivo ao auto-treinamento através do desenho e da escrita podem fazer o Asperger superar estas falhas motoras, especialmente com as mãos. Aspergers maduros, que já passaram por todas as fases do Processo de Amadurecimento Asperger  costumam ter níveis muito mais elevados de eficiência motora do que os imaturos, então tais características NÃO são permanentes, e são plenamente solucionáveis.



Prevalência
          As informações sobre a prevalência do Transtorno de Asperger são limitadas, mas ele parece ser mais comum no sexo masculino.

Curso
          O Transtorno de Asperger parece ter um início mais tardio do que o Transtorno Autista, ou pelo menos parece ser identificado apenas mais tarde. Atrasos motores ou falta de destreza motora podem ser notados no período pré-escolar. As dificuldades na interação social podem tornar-se mais manifestas no contexto escolar. É durante este período que determinados interesses idiossincráticos ou circunscritos (por ex., fascinação com horários de trens) podem aparecer e ser reconhecidos como tais. Quando adultos, os indivíduos com a condição podem ter problemas com a empatia e modulação da interação social. Este transtorno aparentemente segue um curso contínuo e, na ampla maioria dos casos, a duração é vitalícia.



Erro:” Atrasos motores ou falta de destreza motora podem ser notados no período pré-escolar. As dificuldades na interação social podem tornar-se mais manifestas no contexto escolar. É durante este período que determinados interesses idiossincráticos ou circunscritos (por ex., fascinação com horários de trens) podem aparecer e ser reconhecidos como tais. Quando adultos, os indivíduos com a condição podem ter problemas com a empatia e modulação da interação social. Este transtorno aparentemente segue um curso contínuo e, na ampla maioria dos casos, a duração é vitalícia.”.Primeiro, o Asperger imaturo, no início da idade escolar, não está tendo dificuldades com interação social, ele não tem porque não quer, por que não está interessado, e as pessoas tem o direito de interagirem socialmente se quiserem, não são obrigadas a isto.Quanto a interesses idiossincráticos ou circunscritos, isto em primeiro lugar não é válido para 100% dos Aspergers, segundo isto NÃO é um defeito, NEM NADA DE ERRADO.Também neurotípicos tem interesses assim.”Falta” de empatia e modulação social: isto desaparece naturalmente com o passar do Processo de Amadurecimento Asperger,aspies maduros tem muita empatia e boa sociabilidade,sendo inclusive grandes amantes e muito bons amigos,podem ser , muitos deles, inclusive, muito carismáticos.Este negócio de curso contínuo e vitalício é totalmente furado e nada tem a ver com a realidade dos Aspergers.Ao contrário, com o passar dos anos ele vai ficando cada vez mais sociável e empático.



Padrão Familial
          Embora os dados disponíveis sejam limitados, parece existir uma freqüência aumentada de
Diagnóstico Diferencial
          O Transtorno de Asperger não é diagnosticado se são satisfeitos os critérios para Transtorno Invasivo do Desenvolvimento ou Esquizofrenia. Para o diagnóstico diferencial com Transtorno Autista, ver p. 69. Para o diagnóstico diferencial com Transtorno de Rett, ver pp. 71-72. Para o diagnóstico diferencial com Transtorno Desintegrativo da Infância, ver pp. 73-74. O Transtorno de Asperger também deve ser diferenciado do Transtorno Obsessivo-Compulsivo e do Transtorno da Personalidade Esquizóide. O Transtorno de Asperger e o Transtorno Obsessivo-Compulsivo compartilham padrões repetitivos e estereotipados de comportamento. Contrastando com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo, o Transtorno de Asperger caracteriza-se por um prejuízo qualitativo na interação social e um padrão mais restrito de interesses e atividades. Em comparação com o Transtorno da Personalidade Esquizóide, o Transtorno de Asperger é caracterizado por comportamentos e interesses estereotipados e interação social mais gravemente comprometida.
Erro:” o Transtorno de Asperger caracteriza-se por um prejuízo qualitativo na interação social e um padrão mais restrito de interesses e atividades. Em comparação com o Transtorno da Personalidade Esquizóide, o Transtorno de Asperger é caracterizado por comportamentos e interesses estereotipados e interação social mais gravemente comprometida.” Já foi esclarecido aqui a questão da interação social e de ”restrições de interesses e atividades” e mostrado como estes conceitos são errôneos.Comportamentos e interesses estereotipados NÃO são aplicáveis a 100% dos aspies, apenas aspies imaturos e muito atrasados no Processo de Amadurecimento Aspie podem apresentar isto.Segundo, a interação social não está gravemente comprometida, muito pelo contrário, através do Processo de Amadurecimento Asperger, esta interação vai melhorando de qualidade até se tornar tão boa quanto a de qualquer neurotípico, senão melhor.Aspies maduros são perfeitamente sociáveis, produtivos e bem sucedidos socialmente.Por isto mesmo não há, na Asperger, qualquer comprometimento social permanente.A sociabilidade potencial está no indivíduo asperger, mesmo na fase infantil, apenas latente, resta apenas ser despertada naturalmente pelo próprio Processo de Amadurecimento Asperger, ou estimulados para resultados mais rápidos, por técnicas baseadas neste mesmo processo.


Cristiano Camargo

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Desfazendo equívocos comuns e corrigindo informações ultrapassadas:

Algumas definições de características Asperger que são muito comuns de se achar em literatura clínica e na internet andam contendo informações que estão ultrapassadas ou equivocadas, ou ainda resultam de interpretações errôneas.O principal erro, no entanto , é o de não deixar claro a quem lê que tais caracterísiticas,ao menos várias deleas, não são perenes nem insolúveis, o que pode passar para o (a) leitor(a) a impressão completamente equivocada de que acompanhem o Asperger durante toda a vida dele e sejam tão inevitáveis quanto insuperáveis,características fixas e permanentes, o que, claro, não é verdade.Na minha opinião só se pode considerar como característica de uma condição psicológica, aquela que for de caráter permanente, imutável,incorrigível, durando a vida toda.Por exemplo, o Psicopata tem como condição a vontade de dominar, de matar e fazer seus oponentes ou vítimas sofrerem.Ele pode permanecer cem anos em tratamento, com quais medicação forem, ele sempre voltará a dominar, matar,torturar, sem sentir culpa nem ter qualquer tipo de sentimento.Não há auto treinamento, tratamento ou terapia de qualquer natureza que consiga mudar a natureza psicopata.Só a morte o fará parar de matar.Para mim então, se não é permanente  neste sentido, não é característica, é uma condição provisória passível de modificação ou eliminação.

Alguns exemplos  destes conceitos de características são os dados a seguir e devidamente comentados para sua correção:

 1)Aspies tem coordenação motora pobre:Em geral costumam nascer com a coordenação motora incompleta, porém, isto se corrige  fácilmente com fisioterapia.E não apenas isto, a estimulação ou o auto-treinamento através de desenhos e/ou escrita melhora muitíssimo a coordenação motora das mãos.Aspies maduros geralmente ter coordenação motora muito melhor do que a de imaturos, conseguindo inclusive dirigir com maestria, atividade que exige muita coordenação motora de pés e mãos com a visão.Portanto, esta é uma característica não-permanente.

2)Aspies não conseguir olhar nos olhos quando conversa.Outra característica fácilmente eliminável através de auto-treinamento.Aspies maduros geralmente conseguem conversar olhando nos olhos, em sua maioria.

3) Aspies tem linguagem pedante, com muitas repetições e estereotipada;

Uma visão errônea e ultrapassada. Trata-se de um erro de interpretação originnário de uma observação inacurada e imprecisa ao longo da vida do Asperger observado.Na verdade,os neurotípicos que interpretam assim, o asperger não tem intenção pedante quando fala, e um asperger maduro não tem nada de repetitivo nem de estereotipado, isto passa naturalmente 'a medida que ele evolui durante o Processo de Amadurecimento Asperger, então, não são características permanentes ou fixas,mesmo sem tratamento um aspie bem sucedido pode superar estas coisas fácilmente, e muitas crianças aspies mais avançadas não tem repetições e estereótipos;isto só vale para aspies muito imaturos ou casos mais severos, que estejam próximos do autismo clássico.Não dá para generalizar que todos sejam assim.A linguagem rebuscada e sofisticada dos aspies provém de seu superior  e avançado conhecimento e estudo auto didata, mostrando que nos assuntos eleitos como sua preferência , o aspie é superior a maioria dos neurotípicos, o que mostra o nível de sua inteligência.Ora, isto é uma qualidade, uma vantagem, não um “defeito”,um “prejuízo”, uma “limitação”. Os aspies não usam esta linguagem sofisticada para se mostrarem, para se vangloriarem, nem para provar nada a ninguém, o fazem porque esta é a linguagem interna que usam para raciocinar, e é natural para eles, não existem intenções pedantes, arrogantes, de demonstrações de superioridade no que dizem como os neurotípicos interpretam e entendem.



4)Aspies são ingênuos e extremamente crédulos e não entendem ironia:

Mais um equívoco: só aspies muito imaturos e infantis (atrasados em relação a outros aspies,casos mais severos) fazem isto, e mesmo assim, não são características fixas nem permanentes,é preciso sempre deixar isto bem claro,com o avançar do Processo de Maturidade Asperger elas adquirem a capacidade de desconfiança , ironia e Teoria da Mente inclusive, e em muitos casos, todas estas características citadas são superadas pelo próprio aspie sozinho, sem precisar de terapeuta,como foi o meu caso.Lembro ainda que existem casos de aspies que podem atingir a Maturidade Asperger ainda crianças ou pré-adolescentes, não existe uma idade definida para isto, varia muito de caso para caso.Ao contrário do que muito se prega, aspies maduros, que já passaram por todo o Processo de Amadurecimento Asperger,entendem e usam tanto metáforas como ironia tanto em diálogos como ao escreverem.

5) Aspies não tem pena compreensão sobre a morte:

Um equívoco desta vez berrante !Esta “característica” apontada pelo estudo da Dra. Letícia Calmon Drummond Amorim, conseguiu chegar a conclusões completamente equivocadas e imprecisas.Basta ver como ela fez a pesquisa dela, ver as respostas dos aspies e chegar ‘a conclusão de que ela chegou nestes resultados usando como “cobaias” adolescentes aspies bastante imaturos e atrasados no Processo de Amadurecimento Asperger(P.A.A.) Com toda a certeza, se ela tivesse feito a pesquisa com Aspies adolescentes maduros no sentido do P.A.A. , os resultados teriam sido totalmente, diametralmente diferentes!

É preciso deixar claro que não estou questionando a competência científica, nem a metodologia da Dra. Letícia, apenas apontando que o erro se deu na qualidade da amostra de Aspies que ela escolheu.

Dou um desconto, no entanto, porque ela ainda não tem idéia da existência de Aspies maduros e Imaturos, nem da P.A.A. , mas o fato mostra claramente o benefício que a aquisição destes novos conhecimentos pelos pesquisadores pode alterar significativamente o resultado de suas pesquisas, e as tornar muito mais precisas e eficientes.

Aspies maduros tem uma idéia precisa da Morte e sabem muito bem que ela é inevitável, eterna, real,e definitiva.E também conhecem muito bem a natureza dela e porque ocorre.Dificuldades de aceitar a Morte?Neurotípicos as tem da mesmíssima forma, não tem diferença.Se todas as pessoas fossem absolutamente racionais e aceitassem pacíficamente a morte como algo natural, não pranteariam seus mortos.Ah, aspies não choram em enterros?

Quem disse que 100% deles não choram nos enterros?E quem disse que eles não sentem a morte da pessoa querida, a falta, o sentimento de perda?

Claro que sentem, e mesmo os imaturos, que não expressam sua dor externando-a, o fazem internamente com certeza.E quando não a externam, não é porque não tem sentimentos, apenas que estes estão calados muito fundo em suas mentes e podem ter dificuldade de sair, porque muitas vezes o Mundo Interno de Fantasia deles os reprimem e não deixam a dor vir ‘a tona e se externar. Mas durante o P.A.A., eles aprendem a superar isto e externar seus sentimentos,então não é algo fixo, nem permanente.

Tanto que os Aspies maduros em geral conseguem externar estas dores de luto.Então não se deve confundir a não-exteriorização com ausência de sentimentos ou incompreensão da Morte.



Cristiano Camargo

domingo, 11 de dezembro de 2011

Aspergers e sua relação com a Teoria da Mente

No decorrer deste ano, eu tive um debate extremamente interessante na minha comunidade sobre Asperger no Orkut, relacionado à Teoria da Mente.

Para que possam se situar, para aqueles que não souberem do se trata a Teoria da Mente, vou citar aqui um conceito:

Segundo Premack & Woodruff, 1978 : “  Teoria da mente significa a capacidade para atribuir estados mentais a outras pessoas e predizer o comportamento das mesmas em função destas atribuições”.(fonte: site Universo Autista).

Muito bem! Algunss autores, como Juliana Pereira  e Priscila Tenenbaum ,por exemplo,(fonte :site Comportamento Infantil com Dr. Gustavo Teixeira) atribuem aos Aspergers uma “dificuldade de colocar-se na perspectiva dos outros”.

Estão corretos? Não! E porque não? Porque não se trata de uma dificuldade, apenas de uma condição momentânea.Esta na verdade não é exatamente a palavra que eu procurava, mas vou explicar: na Primeira Fase do Processo de Amadurecimento Asperger(P.A.A.),a criança está entretida em seu Mundo Interno de Fantasia(M..I.F. ); isto a leva a ser mais egocêntrica e egocentrista, portanto a pensar menos socialmente e nas outras pessoas.Na verdade ela projeta a si própria nas outras pessoas para construir seus personagens, e como ela tem uma intensa relação de confiança com seu M.I.F., ela tende a acreditar que as pessoas sejam do jeito que ela imagina, ignorando como elas realmente sejam, nesta fase.

Então o Aspie age diferentemente quando na primeira ou última fase de seu P.A.A., e também conforme o contexto da ocasião:um aspie ainda imaturo não vai querer se colocar no lugar de outra pessoa, especialmente quando estiver mergulhado em seu M.I.F., ou elaborando um raciocínio complexo,mas mesmo com a mente desocupada (o que é raro) ele tenderá a acreditar no que imagina, não no que vê.Isto porque muitos aspies  , em especial os imaturos,tendem a considerar a Realidade como algo menor, algo mundano, comum, de pouca importância.O prioritário é seu M.I.F.

Mas um Aspie maduro tem a capacidade plena exercer a Teoria da Mente, mas só a exerce quando considera esta necessária para dominar uma situação ou quando acha que ela lhe dará algum tipo de vantagem ou benefício sobre outras pessoas.Mas isto também envolve sentimentos, então, quando ele pensa em pessoas que gosta e que estejam em situação ruim, ele se preocupa com ela e se coloca na situação dela, buscando soluções.

Em algumas ocasiões, quando o Aspie maduro está explicando um raciocínio complexo e tem muito o que falar, sua mente está ocupada demais no momento para também exercer a Teoria da Mente, mas se lhe for dado o devido tempo, ele a exercerá.Como diálogos neurotípicos são muito rápidos,sem dar muito tempo para raciocínios complexos, na base do improviso tosco,muitas vezes este tempo não é dado devidamente, passando a impressão falsa de falta de capacidade de exercer a Teoria da Mente.

Assim como não é verdade que aspies não sejam capazes de dialogar no mesmo ritmo dos neurotípicos -eles são, mas não gostam de fazer isto nesta velocidade, pois seu raciocínio além de complexo , é estruturado em uma ordem burocrática organizada, com a eleição de prioridades e uma ordem precisa de sequencia de análise, e eles se vêem obrigados a sintetizar e abrir mão de boa parte do processo burocrático de criação de raciocínio para obter a velocidade desejada.

Mas o asperger não tem apenas um bom raciocínio analítco.Os aspergers maduros desenvolvem com o tempo e auto treinamento um raciocínio dedutivo altamente sofisticado. E isto é um componente intrínseco da Teoria da Mente.Para você se colocar no lugar da pessoa e prever como ela irá se comportar numa situação hipotética, que é não mais que o âmago da T.M. ,você deve ser capaz de deduzir comportamentos.

É como aquela bobagem que muitos dizem de o asperger não ser capaz de reconhecer estados emocionais das outras pessoas pelo reconhecimento fisionômico do rosto e mãos.Um asperger maduro  e auto treinado consegue sim, fazer este reconhecimento, que é outro componente da T.M.

Novamente coloco a mim como exemplo.Muitas vezes nem preciso ver a expressão do rosto para saber o estado emocional da pessoa, sua intenções, se está falando a verdade ou mentindo, ou omitindo informações, ou ainda, escondendo sentimentos.Mas como comumente eu consigo conversar olhando no rosto da pessoa se eu quiser,nestas ocasiões eu percebo muito bem o estado emocional da pessoa.Claro, é preciso auto treinamento para conversar olhando nos olhos, então, após o olhar inicial, eu rápidamente avalio se vale a pena ou não usar este recurso- depende da pessoa que for, da situação que eu estiver,do que eu achar que esta pessoa pode ter a me oferecer de bom e de ruim,e aí julgo se a vou conversar com ela olhando nos olhos ou não, porque muitas vezes nem vale a pena.Mas também, dependendo do rumo da conversa, posso mudar de idéia e passar a conversar olhando nos olhos.

Mas para mim, e acredito boa parte dos aspies, só o tom de voz e o gesticular já indicam sozinhos muito bem o estado emocional da pessoa, o reconhecimento fisionômico é apenas um recurso a mais.

Isto pode não ser agir igualzinho a um neurotípico, condicionado desde criança a conversar olhando nos olhos,mas e daí?O que isto tem de ruim, de defeito?Nada, é apenas uma maneira diferente de ser, não uma maneira doente de ser.

Muitas coisas podem ser feitas com iguais resultados de maneiras diferentes. Cabe aos Neurotípicos pelo menos tolerar o diferente como sendo saudável,ou seja, aceitar a realidade e não distorcê-la.

Enfim, os Aspergers tem e exercem a Teoria da Mente, quando querem, se quiserem e de uma maneira diferente dos Neurotípicos, mas igualmente clínicamente, psicológicamente saudável.



Cristiano Camargo

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Alerta aos Pais:Choque de Realidade=Regressão Perigosa !


(Este artigo foi escrito emAbril de 2010)

Vou comentar aqui algo muito importante da vida e mente dos aspies, e de um erro muito comum que mães e pais de aspies pode vir a cometer, revelando aqui os riscos e perigos deste erro, que podem vir até a serem para a vida toda,ilustrando com uma pequena passagem da minha vida.
Trata-se do "Choque de Realidade":
Existem muitos pais e mães(como os meus, por exemplo) que, talvez pressionados por sua própria educação e pela sociedade convencionalista acabam cometendo um grave erro: o de acharem que dando ao filho um "choque de realidade", possam forçar o filho a aceitar a realidade como os pais acham que ela é, e forçá-lo a amadurecer rapidamente em tempo recorde,ou ainda achando que os filhos tendo de se virar sozinhos, ficarão "curados da Sindrome",como se qualquer destas coisas fosse possivel...
Muito bem, aqui vai então, para ilustrar a dimensão que este erro tem e terem uma idéia das consequencias terríveis que este erro grave pode causar no aspie e no proprio relacionamento dele com os pais,aqui vai um pequeno relato de uma pequena parte da minha vida:

Ribeirão Preto,dezembro de 1985:

Eu tinha 22 anos de idade, e morava com minha mãe, na cidade de Ribeirão Preto,interior do Estado de Sao Paulo.
Meu pai (que morava na capital)estava inconformado que eu vivesse na casa da minha mae,fazendo um cursinho atras do outro ,sem nunca entrar na faculdade, e decidiu que era a hora de ele me dar um "choque de realidade" .
Ele decidiu entao que eu iria me mudar para a cidade natal dele, São Carlos, também no interior de Sao Paulo, e lá eu iria entrar e cursar uma faculdade e morar sozinho ou numa república.Ele achava que assim eu deixaria de ver a vida cor de rosa, aprenderia a dar valor ao meu pai, ao esforço dele, ao dinheiro dele, e que eu iria aprender na marra a ver a realidade como ele achava que ela era e assim, aceitaria resignado e de cabeça baixa, a realidade e viveria nela com "sucesso".
Muito bem.Um belo dia ele chegou na casa da minha mãe e me disse os planos dele como se tudo já estivesse decidido por ele,sem nem ao menos perguntar minha opinião, nao importando a ele se eu queria ou não ir.Isto ficou bem explícito nesta frase que ele me disse:
-Ou você vai, ou você vai, você nao tem opção!
Ansioso , querendo tudo para ontem e nem se importando tambem com a opinião da minha mãe, se ela queria ou nao que eu fosse, ,convenceu minha mae, que o apoiou, e me colocou no Landau dele e me levou para São Carlos naquela mesma tarde, onde ele alugou para mim um quartinho no fundo de um estacionamento.
Dias depois eu vinha de mudança e me vi sozinho, de repente, eu que a vida toda tinha morado com minha mãe, ajudando -a em tudo nos afazeres do dia a dia, eu que estava imerso no meu mundo interior e nada sabia da realidade, me sentindo abandonado por meu pai,escorraçado da minha vidinha tranquila de então,jogado no meio do mundo, de lugar nenhum, no meio do nada,sozinho e com apenas a minha mesada para me virar.
As noites que se seguiram dali por diante foram sempre terriveis!
Logo me inscrevi no cursinho, e la tentei estudar, com muita dificuldade, lutando contra a depressão temerária, o desânimo,a mágoa feroz de estar fazendo algo contra a vontade, forçado, vivendo numa cidade que nao era a minha e uma liberdade que eu não queria.
A noite eu nao conseguia dormir.Minha insegurança era tanta que eu achava que haviam ratos no quartinho, e a noite eu tinha "delírios" com barulhos de ratos andando pelo teto e sons que pareciam risadas sinistras.
Resultado: com o tempo, passei a não dormir mais a noite:a tv ficava ligada a noite toda com o som bem alto e quando a programacão da tv acabava,eu ligava o radio, o silencio era simplesmente apavorante para mim , pois os barulhos de ratos e as risadas fantasmagóricas podiam voltar a qualquer momento.
Depois de anos fui descobrir que não haviam ratos lá, e as tais risadas sinistras eram na verdade grilos e pássaros noturnos.
Desesperado, me refugiei ainda mais fundo no meu mundo interior e passava agora muito mais tempo la por dia do que antes de mudar de cidade.
Eu dormia de dia, e tinha pesadelos terriveis!
Meses se passaram e veio o vestibular da UFSCAR, Universidade Federal de São Carlos.
Primeira chamada-nada !
Segunda chamada-nada!
Terceira chamada:Passei !
Eu tinha entrado na faculdade, mas no curso errado!
É que na epoca, havia uma regra que dizia, que quando se fizesse a inscriçao para o vestibular .alem do curso que se queria, a pessoa era obrigada a escolher mais dois cursos, daqueles que ninguém quer:Química, Matematica e Estatistica.
O curso que eu queria era Biologia(meu mundo interior na epoca estava na fase de interesse por estudos do comportamento animal, especialmente de lobos e raposas), mas acabei entrando em Estatistica.
Ora, Estatística tem muita matemática, e sou péssimo em matemática, detesto matemática, e o meu histórico escolar não me dera base suficiciente de matemática para enfrentar um curso destes.
Minha vontade era de desistir e voltar para a casa da minha mãe,mas amedrontado com a possivel reação que meu pai pudesse ter, acabei tentando fazer o curso.
Porém,com o tempo vi que isto era impossível:as aulas eram simplesmente grego para mim e os professores não ajudavam, dizendo que se eu tinha entrado no curso,era pressuposto que eu tivesse base de matemática para acompanhar o curso.
Ainda tentei estudar com uma professora particular, mas a diferença de base era tanta, e o desânimo de fazer algo forçado, contra a vontade, e que nao tinha nada a ver comigo acabaram vencendo e desisiti.
Mas nao podia largar a faculdade, pois temia que meu pai me largasse lá, sem mesada, e eu acabasse morrendo de fome.Claro que ele não faria isto, mas era a minha insegurança que eu tinha.
Não havia outra saida:eu tive de fingir que estudava e assim foram por três anos.
Durante este tempo, eu passava muito tempo no meu mundo inteiror, indo a biblioteca da faculdade, ou a pública da cidade, lendo livros de comportamento animal e paleontologia, e também em casa, escrevendo meus livros e desenhando carros.
Como eu me virava no dia a dia?
Como eu so tinha um fogãozinho duas bocas(mas não sabia cozinhar) e uma geladeira velha e usada,eu tomava café da manhã numa lanchonete,e almoçava e jantava em outra, vivendo a base de sanduiches e panquecas
como a mesada que meu pai me dava nao era ruim, eu podia me dar a este luxo.Só o que eu não sabia na época é que eu já devia estar diabético,como sou hoje em dia.
Só fui descobrir isto anos, depois, em outra fase da minha vida.
Eu tinha uma faxineira que vinha uma vez por semana e ela também lavava minhas roupas, já que eu não tinha máquina de lavar.
Mas minhas noites continuavam um inferno e o tédio me corroía, e cada vez mais aumentava minha mágoa ao meu pai ter me colocado para viver ali,colocando nele a culpa pelas minhas desgraças e pesadelos.
Mas nas poucas vezes que ele vinha me visitar, eu era submisso a ele e tinha de fingir 'a duras penas que era feliz, estudava e gostava daquela cidade da qual hoje tenho lembranças tão terríveis!
Além de me ver jogado naquele fim de mundo, me vi separado dos dois únicos amigos que eu tinha na vida, e da menina que eu gostava(mas não conseguia namorã-la)tudo isto só aumentou minha mágoa ainda mais!
Com o tempo comprei uma motinha mobylette, e depois, como eu sonhava muito em ter um carro, fui colocando dinheiro na poupança(90% do que eu recebia de mesada mensalmente) por um ano e comprei finalmente meu primeiro carro, um Dodginho Polara branco 1976.
Com meus fantasmas e delírios recrudescendo e meu mundo interior virando um inferno tão terrível quanto a realidade cruel que eu vivia,passei a dormir todas as noites dentro do carro,era a unica maneira de eu dormir a noite,onde,tresloucado pelas miríades da loucura,eu achava que de alguma forma o carro me protegeria.Mas minha paranóia era grande demais e eu não confiava totalmente na "proteção" do carro, e sonhava que morria sufocado dentro do carro, sem ar.E mesmo dentro do carro, os barulhos de ratos e as gargalhadas continuaram, fora o pânico, pois minha imaginação galopava, e eu tinha medo de ver os ratos andando pelas janelas do carro, depois medo de espíritos e fantasmas, depois medo de dinossauros, e os pesadelos cada vez piores, não paravam de piorar!
Mas no ano seguinte, depois de ter ficado um ano economizando cada centavo e quase passando fome para comprar o carro,percebi finalmente que o carro me dava a liberdade que eu precisava para ter um alívio dali, e passei a viajar para Ribeirão Preto de carro todo fim de semana, e depois fui aumentando o número de dias por semana que eu ficava na minha mãe.
No terceiro ano,passei a morar num hotel em São Carlos nos poucos dias por semana que eu ficava na cidade, só para não ter de dormir mais naquele quartinho maldito, e foi então que os pesadelos começaram a passar.
Afinal eu estava acostumado a vida inteira com uma casa confortável e grande, e não com um quartinho de 3 metros por um e meio, mais banheirinho e varandinha.
Um belo dia meu pai descobriu que eu fingia estudar e que eu já tinha sido jubilado da faculdade, e me deu uma bronca de uma hora inteira pelo telefone.
Fiquei calado e nada respondi, tanta a minha insegurança de enfrentá-lo!
Como ele já tinha cortado minha mesada mesmo, peguei o carro e me mudei de volta para a casa da minha mãe, onde eu me sentia protegido e amado, e aos poucos, a sanidade mental foi voltando.
Meu inferno tinha finalmente terminado, mas as marcas ficaram para sempre.
Durante este período, de 1986 a 1989,houve uma tremenda regressão na minha psiquê,uma infantilização poderosa no meu jeito de ver o mundo, eu odiava ainda mais a realidade e não a aceitava de maneira alguma!
O corte na mesada, asim como do relacionamento com o meu pai, durou seis meses.
Mas se nunca tinha sido tranquilo este relacionamento,depois disto regrediu muito por um bom tempo,sendo que o meu sofrimento e atraso em vários anos no processo do meu amadurecimento Asperger,mostrou quão terriveis são as consequencias de se querer impor um Choque de Realidade a um filho Asperger!
As consequencias poderiam ter sido piores, muito piores, e corri um sério risco de pirar de vez e me deixar cair na loucura,não sei como isto não aconteceu!
Fica aqui o alerta aos pais e mães de Asperger, para que nunca, jamais mesmo,tentem fazer isto com seus filhos,especialmente sendo eles Asperger!
Choque de Realidade-Nunca mais !

Cristiano Camargo

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Reflexões de um Asperger sobre o seu próprio isolamento

Reflexões de um Asperger sobre seu próprio isolamento

Artigo escrito em Janeiro de 2010:

Ontem fez um mês que mudei para minha nova casa,e já lá se vão quatro meses que mudei de Sao Paulo para Ribeirão Preto.Para onde me mudei é a minha terrinha natal, mas,estranho, eu me sinto isolado aqui!
Não por falta de gente:na mesma cidade estão meus únicos dois amigos que fiz na vida, minha mãe, minha sogra, toda a parentada enorme da minha esposa e tambem não moro sozinho, minha esposa claro, mora comigo debaixo do mesmo teto.
Porém as visitas tem sido poucas e quase não saio para visitar a ninguém.Nunca fui  muito sociável,continuo não sendo.Não que eu não goste de ver meus amigos, minha mãe,etc e tal,mas...
O que, atualmente me da prazer nesta vida, o que eu faço todo dia que me agrada em minha rotina?Ficar baixando meus animes e ficar assistindo-os,baixar e colecionar imagens de anime hentai...Então não saio de casa porque gosto do mundo da internet,sem ela minha vida seria um tédio, um caos desesperador, sensualidade é o que preenche meu tempo.Ou melhor, a busca pela satisfação da minha carência afetiva através do erotismo dos desenhos animados japoneses é o que preenche meu tempo e mente o tempo todo,ou quase,fora o sonho de eu conquistar o carro Mercedes-Benz usado dos meus sonhos,passo também muito tempo pesquisando estes carros.Sem falar no tempo que passo escrevendo meus livros.
Durante toda a minha vida, fiquei refletindo sobre o valor da sociabilidade na vida das pessoas e qual o papel que ela tem no sentido de trazer felicidade a vida da gente.
Descubro que, em qualquer lugar que eu vá, para onde quer que eu me mude, o isolamento me acompanha.E descubro-me muito mais feliz estando comigo mesmo e minha esposa vivendo meu mundo de animes e Mercedes do que conversando com as pessoas, interagindo socialmente com elas.

No tempo sofrido que vivi em São Carlos,de 1986 a 1989, minha conclusão sobre sociabilidade era de que a dita cuja era de valor duvidoso:as cidades onde moramos só nos fazem sentido quando temos nossas pessoas queridas lá, e que a sociabilidade não traz necessariamente felicidade a ninguém ,e que muitas pessoas muito sociáveis são no fundo pessoas infelizes,dependentes emocionalmente das pessoas com as quais se relacionam.
Ainda hoje, não vejo muito como escapar de tal conclusão.Afinal, se eu fosse sociável, e fosse ficar visitando as pessoas ou recebendo as pessoas na minha casa, eu não teria tempo para baixar meus animes,nem ficar na internet.E ficaria demasiado ansioso para voltar a internet o quanto antes.
Claro que o isolamento traz alguns transtornos, em especial, a carência afetiva.Mas isto também não é privilegio do isolamento, pessoas muito sociáveis também são extremamente afetivamente carentes,embora não obcessivamente carentes como eu.
Alguns ícones marcaram a minha vida, durante as fases que eu passei.
Desde muito cedo, havia(e ainda há) uma obcessão em mim na busca de alguém que me consolasse e protegesse.Porquê?
Um ícone que sempre imaginei e sempre quis que fosse real, é o do Anjo Heróico.Desde que me conheço por gente fui fascinado em pensar que existisse um anjo que me protegesse e consolasse.Mas esta imagem evoluiu com o tempo.Quando eu era criança eu imaginava este anjo como uma linda mulher vestida em uma camisola longa,que abrigava minha cabeça entre os seios dela,me abraçava , me fazia caricias nos cabelos e me consolava.Este anjo estava sempre de olhos rasos e eu também.

Depois já na idade adulta, este anjo passou a ser uma mulher igualmente linda, mas completamente nua,que eu abraçava e ela me envolvia com as brancas asas dela e me isolava de qualquer perigo da cruel Realidade, e tinha uma espada poderosa em uma das mãos, com a qual me defendia ferozmente de todos os perigos.Esta anja me abraçava com uma das mãos, me abrigava a cabeça entre os seios, e de vez em quando me beijava docemente o rosto.E por vezes me levava a voar com ela,para longe da realidade, para me levar ao meu mundo de imaginação.
Então, porque tanta necessidade de proteção e consolo?Porque tanta carência?
Isto me faz lembrar um trecho de um livro meu, "Consiência de Viver", onde o personagem principal , chamado "Ele",que vivia sozinho numa casa há décadas, depois de abandonado pela família,tinha uma caixa de madeira fechada, amarrada com uma corda, a qual nem ele sabia o que tinha dentro, e não tinha coragem de abrir.Ele pensava consigo mesmo que ele protegeria a caixa, depois passou a pensar que a caixa o protegeria.Mas ,se a caixa era assim tão poderosa para protegê-lo do Espectro(um esqueleto de cavalo que andava sobre as patas traseiras e vivia a assustá-lo-na verdade a personificaçao da própria consciencia do Ele),quem o protegeria da caixa?Aí ele pensou que o armário o protegeria da caixa e a encerrou dentro do arm[ario.Mas quem o protegeria do armário?Seu pensamento foi o de que ele protegeria o armário, mas então, quem o protegeria?Quem era mais poderoso, o Homem, a Caixa ou o Armário?
No livro este dilema não teve solução.Mas é um dilema que, acho eu, todo asperger vive.

Para mim ,ser sociável significa me refugiar nas outras pessoas buscando proteção e consolo e um carinho que nem sempre, quase nunca(e quase nunca por maldade ou má vontade,diga-se de passagem)as pessoas podem oferecer, pois há um claro limite no que as pessoas podem ajudar as outras.
E qual o problema em ser isolado?
Era o que eu refletia em São Carlos, e ainda reflito,as pessoas podem ser felizes em viver só em casais,formar uma família ou enfim, manter pequeno o núcleo social que se acerca dele.
Eu simplesmente não me sinto bem em meio a uma montanha de pessoas.O barulho das ruas, ônibus, trânsito, caminhões, o barulho das pessoas conversando entre elas me inferniza a vida sobremaneira e me deixa irritado, pois nas ruas quero ficar com meu mp3  player ligado, escutando minhas músicas de anime e imaginando minhas estórias ou o que eu faria se ganhasse na loteria.Em festas, minha reação automática é me isolar voluntariamente o máximo possivel, e só aproveitar a comida. Me lembra os tempos que eu nao conseguia ter namorada, quando eu abordava as meninas, mas simplesmente não tinha o que conversar com elas e ficava minutos a fio pensando em que assunto "puxar', para o extremo tédio e irritação delas.
É mais ou menos a mesma coisa:sinto que os assuntos que tenho para conversar são desinteressantes para as outras pessoas ,logo não tenho assunto para puxar com ninguém, e, por outro lado estou também desinteressado em ficar conversando.Acabo só conversando quando vejo as pessoas falando de um assunto que eu domine muito,aí meu ego entra em ação e tento dominar a roda, procurando ser o centro das atenções, meio que "ensinando" as pessoas e tentando conduzir o raciocínio delas para que elas cheguem as minhas conclusões e acabo não aceitando nenhuma outra.O que faz,
às vezes, as pessoas se antipatizarem comigo.

Então, no que ser sociável me faria feliz?Em nada?
Não sei, nem tanto, pois eu sempre tive necessidade de ser o centro das atenções e sempre me ressenti do meu falecido irmão ter sido sempre o centro das atenções da família e não a mim, e que mesmo depois da morte dele, ele continuou sendo por mais um tempo, depois minha irmã e minhas sobrinhas de 7 e 10 anos passaram a ser.
Mas o que estou dizendo?Minha nova casa, apesar de eu ja estar morando nela há algum tempo,ainda não terminou a reforma, faltam colocar os vidros na cozinha, e me sinto inseguro de que possam aparecer ratos ou insetos na casa, sobretudo a noite...fico abraçado com minha esposa, como se ela fosse me proteger destes perigo, mas, pombas, eu é quem devia protegê-la, por ser homem!

Volta o velho dilema do Homem e da Caixa...
E me voltam lembranças de São Carlos, onde, no quartinho em que morava sozinho,eu vivia achando que tinha ratos e não dormia,mas nunca achei ratos lá.Aqui é a mesma coisa, não fico sozinho a noite nesta casa de jeito nenhum, com medo de aparecerem ratos, mas nunca apareceu nenhum.A gente fica imaginando ratos quando não existem ratos, e ai quer ir mais ainda para os animes e depressa, ou refugiar-se nos braços da esposa.Eis aí o ícone do Anjo Heróico de novo...

As vezes parece uma paranóia histérica, qualquer barulho estranho a noite nesta casa me paraliza de pavor, mas,ao investigar,não era nada de mais, nem sequer suspeito.

Acho que só vou me sentir seguro aqui no mês que vem, quando colocarei finalmente os vidros na janela da cozinha...
O tempo que fiquei morando na minha mãe, sem computador, foi uma verdadeira tortura de tédio para mim, e nunca estava seguro a noite,pois começava a imaginar que o fantasma do meu irmão habitava aquela casa e iria aparecer diante de mim a qualquer momento.Ironia do destino, meu irmão, que sempre me protegeu, sempre foi tão bom para mim,e sempre me quis bem,eu ter medo dele, que nunca tive medo dele em vida,ter agora,sendo que a lógica diz que se fantasmas existissem e ele aparecesse diante de mim seria para me proteger e ser meu amigo, não para me fazer qualquer mal....
Não acho, no entanto, que se eu vivesse numa casa cheia de gente eu seria menos carente ou menos inseguro,provavelmente estaria sufocado, insatisfeito.A mesma coisa se eu fosse cheio de amigos, me chamando a atenção a toda hora.Sou feliz do jeito que sou,pois ser feliz não é estar constantemente alegre,é estar satisfeito com a vida apesar de tudo e ter esperanças de poder melhorá-la e lutar para melhorá-la, continuando a ser eu mesmo.


Cristiano Camargo

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Mundo Interior de Fantasia-Anatomia Mental

Mundo Interior de Fantasia –Anatomia Mental



Talvez , de todas as características marcantes e universais que fazem parte da essência de se ser um Portador de Síndrome de Asperger (Que os pesquisadores da área teimam em chamar de sintomas, errôneamente, aliás),a mais importante seja mesmo o Mundo Interno de Fantasia(M.I.F.)

Bom, eu tenho falado muito nele, em minhas teorias, mas hoje vamos explorar um pouco dele, de sua estrutura,seu funcionamento, sua função dentro da Síndrome, sua importância, e sua evolução durante todo o Processo de Amadurecimento Asperger (P.A.A).

Antes de me aprofundar no assunto, devo frisar que, embora absolutamente todos os Aspergers tenham seus M.IF.’s, eles variam muito de caso para caso e não há seguramente nenhum asperger com M.I.F. idêntico ao de outro.

Para ilustrar melhor os conceitos que vou colocar agora, e haja visto que não posso falar por todos, vou relatar a história da evolução do meu M.I.F. para ilustrar e exemplificar.Isto posto, vamos lá:

Algo que todos os M.I.F’s tem em comum é a sua mutabilidade ao longo da vida:ao contrário do que muita gente pensa, o Mundo Interno de Fantasia do portador de Síndrome de Asperger não é estático, parado , infantil, por toda a vida do indivíduo.

Ele evolui, amadurece e se modifica com o tempo, e tem um número bastante variável de fases. Acredito que por volta dos três anos de idade este M.I.F. comece a se formar, mas também acredito isto ser uma média, pois também varia de caso para caso.Nesta tão tenra idade, este M.I.F. começa a se formar, nebulosamente. De onde vem as fontes?

Isto é bastante difícil de responder, especialmente para crianças muito pequenas.Acredito que venha talvez da observação do comportamento dos pais, outras crianças, livros , televisão e cinema.

A primeira consolidação deste M.I.F. vem alguns anos depois, quando a criança já lê e desenha.Por isto é extremamente importante aos pais de portadores prestarem muita atenção nos desenhos e escritos de seus filhos, e procurar decifrar o simbolismo por trás deles. Quando a criança desenha, está colocando algo como seus sonhos no papel, transpondo seu M.I.F.  para a Realidade,expressando-se.Como o M.I.F. faz parte e é influenciado diretamente pelo Inconsciente, no desenho; os temores, as inseguranças, as insatisfações, sentimentos, alegrias, desejos,da criança estão todos ali, expressos não-verbalmente.

Quando está mergulhada dentro de seu M.I.F. , a criança se coloca num ambiente artificialmente construído por ela, com elementos de suas percepções externa da Realidade, suas manifestações conscientes e inconscientes,emoções e sentimentos,além das influências externas dos assuntos que gosta e com os quais se identifica por uma série de razões psicológicas, que variam de caso para caso.

Lá, na maior parte de sua vida ela se sente à vontade, num ambiente seguro e feliz.

Mas, porquê ela pode precisar de um Mundo que não seja a própria Realidade?

Esta é uma pergunta que muitos pais e mães de aspies e terapeutas também já devem ter se feito muito.

Muito bem, primeiro, por que o M.I.F. é um componente universal e essencial da Síndrome, e segundo,por causa da necessidade de uma válvula de escape, de alívio, e finalmente,por conta de alguma insatisfação com a realidade.

Ao contrário das pessoas neurotípicas, ter só a Realidade onde habitar é muito pouco para os Aspies.Porquê?

Porque  o que fomenta muito o crescimento e a complexidade dos M.I.F ‘s é  basicamente a insatisfação com a realidade.Ou ela não é do jeito que ele gostaria, ou é pequena demais para ele, ou o que é mais comum, ele a sente como um mundo hostil,agressivo,com intenções de destruir seus sonhos e aspirações,um mundo estranho e inseguro.Pode paarecer aos neurotípicos que seja uma não-aceitação da Realidade, mas na verdade, é uma inconformidade com a Realidade do modo como se apresenta, ou seja, o Asperger julga que a Realidade não está favorável a ele, portanto contra ele, consequentemente lhe é hostil e agressiva, e não é assim que ele gostaria que fosse a Realidade.Então, ele aceita a existência da Realidade e a tem como verdadeira, mas a rejeita por sentir que ela o rejeita e não é como ele gostaria que fosse. Mas isto não é privilégio dos aspies, isto ocorre frequentemente com neurotípicos também, de modo bastante comum.Um exemplo?Quem nunca sonhou em ganha r na megasena acumulada e ficar rico, imaginar o que faria com este dinheiro,etc?Pois é, isto é a mesma inconformidade com a Realidade como ela é, é querer que a Realidade seja do jeito que a pessoa gostaria.Não tem diferença alguma!

A infância dos aspies é geralmente tomada de incompreensões , intolerâncias e hostilidades de outras crianças para com a criança aspie, ou às vezes vem estas agressões dos próprios pais.

Isto costuma gerar revolta e agitação na criança, que, ao se sentir rejeitada e isolada por quem seja, ou mesmo agredida física ou verbalmente,e tende a se refugiar no mundo seguro e feliz de seu M.I.F.

Por que este comportamento? Simples: ela tem medo do que lhe é interpretado como hostil e agressivo, quer evitar novas agressões, desenvolve forte complexo de inferioridade e tende a tentar compensar em seu próprio mundo com um complexo de superioridade, onde ela detém o poder e controla de modo absolutista,e também por que não quer se sentir rejeitada, então cria em seu mundo amigos imaginários que a acolhem com atenção e carinho.Isto também ocorre muito quando ela não recebe dos pais a atenção, o amor e o carinho que ela acha que merece.

No meu caso, por exemplo,mais do que o isolamento e a rejeição de outras crianças, o que me fazia ficar em meu mundo era a severidade do meu pai na época( hoje ele mudou muito, de forma muito positiva), que eu entendia como hostil.A primeira fase de M.I.F. de que me recordo foi a influência da literatura(Rudyard Kipling, Jack London, Monteiro Lobato sobretudo), televisão(desenhos animados como Fanthomas, Speed Racer, A Princesa e o Cavaleiro), filmes de monstros japoneses (Godzilla) e filmes da Disney, especialmente “O Lobo e a Raposa”, além da Ciência, os Dinossauros e outros animais pré-históricos.Depois eu comecei a observar os automóveis e desenhá-los, e deixei de desenhar dinossauros e caveiras, esqueletos, para desenhar carros.Criei um país fictício chamado Ksares, que depois virou um continente, depois um Mundo.Como este mundo era regido por indústrias de automóveis, criei mais de cinqüenta marcas diferentes, e milhares de modelos, mais de sete mil até hoje.

Depois, ao crescer mais, a criança passa a freqüentar seu M.I.F. por causa de sua insatisfação com a escola(suas notas), bullying (muito comum as vítimas serem aspies),perdas em jogos, esportes e fracassos em outras áreas.Se a severidade,rejeição,agressões físicas e verbais ou mesmo a falta de atenção dos pais para com esta criança persistirem, serão outra razão para se refugiar dentro de si mesmo.

Como fica uma dicotomia berrante entre a performance imaginada (e exigida duramente de si mesmo) e a real,o aspie em geral não apenas não sabe perder, ele não quer saber perder, não quer que ninguém o ensine a isto(muito justo aliás) e  insiste em jogar até ganhar, insistindo nos mesmos erros, não por burrice como muita gente pode pensar, mas porque na imaginação dele aquela é a maneira ideal de ganhar, ele não quer seguir a maneira dos outros ele quer a dele, e geralmente considera as regras injustas.Teimosia e persistência são marcantes características asperger.

Ora, muitos psicólogos insistem que as pessoas devem aprender a lidar com as perdas, enquanto os aspies acham que só precisam e devem aprender a lidar com os ganhos.

Ocorrem que é nesta época que o complexo de inferioridade está mais enraizado na mente asperger, e é algo realmente difícil de superar.

Na verdade, perder nunca é uma coisa boa e aquele velho ditado de que “não importa ganhar ou perder, o importante é competir” é o que há de mais hipócrita, pois é o que os vencedores falam para os perdedores como prêmio de consolação.

Na verdade o correto não é lidar com as derrotas aceitando-as passivamente e se conformando, achando-se limitado, como reza o aconselhamento psiquiátrico. É reagir, aprender com os erros, reconhecer onde está errando, evitar os erros e insistir, persistir até conseguir.Ninguém deve  sentar no meio fio e ficar chorando dizendo que é limitado, ou ainda ficar conformado e desistir.

Mas é importante sim, para nosso ego , ganhar, assim como é ruim para este mesmo ego, perder. E ter se esforçado não é nenhum consolo se o resultado é negativo, afinal, vivemos numa sociedade competitiva e não cooperativa.

Quando eu era criança, eu também não admitia perder, e ficava jogando sem parar, tentando ganhar. E se eu percebesse que a pessoa estava me deixando ganhar, eu ficava muito, mas muito revoltado, pois aquilo arrebentava com meu ego!

Porém, a percepção de que as coisas funcionam de modo diferente no M.I.F. e na Realidade pode muitas vezes demorar a acontecer, e às vezes se dá de forma dramática, podendo causar traumas profundos.

Mas é uma peça-chave para o P.A.A.  , pois fundamental para ele se tornar um Aspie Maduro.Nem sempre isto ocorre em forma de choque drástico, muitas vezes se dá suave e gradualmente.

Uma vez que o Aspie se conscientiza de que não é possível aplicar diretamente as regras de seu M.I.F. na Realidade, ele precisa adquirir uma segunda conscientização:a de que ele pode, com o tempo , esforço e sofrimento, transformar a Realidade atual, hostil e agressiva, numa Realidade mais agradável e amigável, e com este mesmo esforço, tempo e inteligência, ele pode também ir mostrando que suas regras internas, agora mais maduras e verossímeis,fazem sentido e que vale a pena aplicá-las na Realidade, que são viáveis, aí elas podem mesmo se tornar reais.Isto normalmente costuma ocorrer só na terceira e última etapa do P.A.A.

medida que vai envelhecendo, o aspie vai mudando ainda mais seu M.I.F.  , que vai ficando cada vez mais maduro e estável.

Fundamental para o amadurecimento do MI.I.F. e portanto, do portador, é a descoberta do lado bom da Realidade.Para muitos, como no meu caso, é a descoberta do sexo oposto, do namoro e as primeiras atividades afetivo-românticas.

Mesmo por que, um mergulho muito profundo e prolongado no M.I.F geralmente traz como conseqüência uma profunda carência afetiva e sexual.

No meu caso, este foi o fator que me levou a sair da permanência perene no meu M.I.F.

Após 1999, meu M.I.F. foi começando a deixar de ser o dos carros e o Mundo de Ksares, para ser um mundo povoado pelas minhas personagens de meus livros, e pelas garotas de animes japoneses e sua eroticidade extremada.

Mas, como funciona o M.I.F. ? Bom, a estrutura dele costuma constar do Portador como autor, diretor e personagem principal.Ele comanda os demais personagens, constrói as estórias e determina nascimento, morte e ressurreição  dos personagens, e suas regras variam de acordo com a sua vontade, e se ele quiser, contradiz suas próprias regras sem qualquer tipo de punição.Ele está despóticamente no controle absoluto.É como um maestro regendo sua orquestra.E funciona como uma máquina, em perfeito sincronismo automático, em harmonia.Geralmente há um ou mais vilões, sempre derrotados.Mas isto, num M.I.F. sadio. Quando o portador está na segunda fase do seu P.A.A. , seu M.I.F. cresce numa expansão explosiva, e ele perde o controle , pois seu M.I.F. , através de seu Inconsciente, tenta ganhar o controle total de sua mente, e nisto, os vilões se rebelam e começam a ganhar.Um reflexo externo, um sinal externo, de que isto está ocorrendo é quando o Asperger fica constantemente agressivo, nervoso, agitado , agredindo a si mesmo e a outras crianças e até os próprios pais.

É que nesta altura, tanto o M.I.F. , como a Realidade se tornam hostis , agressivos e insatisfatórios para o Portador, e ele não tem mais onde se refugiar. Ele precisa neste momento se decidir a enfrentar-se a si mesmo, ao seu M.I.F, combater os vilões e virar o jogo e retomar seu controle do M.I.F.

Uma vez feito isto, abre-se a possibilidade de  entrar-se para a terceira fase do P.A.A. ,e completar-se o amadurecimento.

Qual a importância do  M.I.F. para o Asperger?Máxima!

Não apenas por ser o componente principal, central da Síndrome, como por ser o grande responsável por todos os benefícios que esta dá ao seu portador.

Criar novos mundos força o cérebro a criar novas e mais eficientes conexões,novos caminhos mais eficientes para fazer o que não se conseguia antes, aumenta a criatividade, a sensibilidade e a força de vontade na busca de novas e criativas soluções para os problemas.

Ao contrário do que muitos possam pensar, ele não é o responsável  por quaisquer “dificuldades”, “limitações”, “prejuízos”, mas pode sim ajudar o Aspie a se superar e combater as adversidades e obstáculos que pode encontrar na vida.

Basta ver a questão da Sociabilidade.Timidez não é algo exclusivo de aspergers, muitos neurotípicos a tem, em graus variados.É um componente de personalidade, não da Síndrome. A timidez em si, aliada a uma insatisfação com a realidade e com o complexo de inferioridade (outra característica compartilhada com neurotípicos)pode levar tanto o aspie como o neurotípico a ser anti-social, ou ter dificuldade de relacionamentos sociais e amorosos.

Onde eles divergem é que o neurotípico não tem a vantagem aspergiana do M.I.F. onde se refugiar, e assim, podem cair no desespero,nas drogas, no álcool,etc.

O M.I.F. , funciona como um canal de alívio para as angústias e sofrimentos, distração, abstração e como fonte de pesquisa de novas soluções criativas para os problemas reais.

Então é isto, aqui está o Mundo Interior de Fantasaias do Portador de Aspies, em todos os seus detalhes !



Cristiano Camargo